Caminho vermelho

É  muito comum escutarmos nos trabalhos ligados aos caminhos nativos, ou mesmo aqueles que recebem o nome de “xamânicos” a referência ao “Caminho Vermelho” como nome dado para as sendas espirituais ancestrais da terra, principalmente aquelas ligadas aos indígenas Norte Americanos. Mas afinal, você sabe o que é o caminho vermelho?

Bem, inicialmente não acredito que exista apenas uma origem para essa expressão e também como a maior parte dos ensinamentos nativos são orais, poucas coisas estão escritas e muito menos dentro de um “livro da verdade” que possa balizar os entendimentos e conceitos espirituais dos povos e caminhos ancestrais e trazer registros de quando eles foram utilizados pela primeira vez, aliás, que bom que isso acontece..
Para os que estão de fora desse universo indígena e “xamânico”, o caminho vermelho tem sido – no meu entendimento de forma incompleta – realmente utilizado como expressão para qualquer fé e/ou tradição espiritual dos povos pele vermelha. De certa forma não estaria tão errado, exceto pelo fato de que muitos pele vermelha não utilizam essa expressão para nominarem seus caminhos espirituais, sendo uma nominação moderna e que muitas vezes não expressa a realidade dessas fés e tradições, que acabam tendo seus nomes e conceitos próprios, embora tenha sua veracidade e poesia.
Então, o que dizem os nativos sobre esse tema?
Para algumas dessas tradições nativas que expressam sua cosmologia e ensinamentos através da Roda da Vida ou Roda das Direções (um longo assunto para outro artigo), a direção do sul é vermelha e representa nossas emoções, e representando nossas emoções estaria portanto conectada com tudo aquilo que experimenta e sente em nós, sendo a estrada vermelha a caminhada que inicia no Sul de nossas vidas em direção ao Norte, morada da sabedoria, do conhecimento e dos ancestrais feita A PARTIR do coração.
Black Elk, uma grande liderança Lakota pronuncia que sua missão era:
“Ajudar a trazer meu povo para o caminho sagrado para que eles possam caminhar na estrada vermelha novamente, reverenciando os poderes do universo que são um só poder”, para David A Patterson – Silver Wolf, um escritor indígena Norte Americano ainda vivo, o caminho vermelho é um sério código de conduta, uma missão a ser cumprida e que pode ser resumida como “Viver segundo as instruções do Criador”. Silver Wolf afirma ainda que há uma diferença entre estar no Caminho Vermelho e Caminhar o Caminho vermelho:
“Se você participa de saunas sagradas, conhece canções nativas, participa de rituais, você pode estar no caminho vermelho, mas se você quer caminhar o caminho vermelho você deve viver um compromisso 365 dias do ano”
Em seu livro “365 Caminhando a Estrada Vermelha” de Terri Jean, há uma linda compilação de o que seriam 12 princípios éticos correspondentes ao trilhar desse caminho:

Honrar o Grande Espírito;

Honrar a Mãe Natureza;

Buscar a si mesmo através de si mesmo;

Ter um código de conduta em comunidade;

Banir o medo de nossas vidas;

Respeito;

Falar sempre a verdade;

Rejeitar o materialismo;

Buscar sabedoria;

Praticar o perdão;

Ser otimista;

Usar somente o necessário, deixar o resto ser o que é.

Particularmente, como homem “branco” moderno, e que busca aprender com esse caminho, compreendo que essa senda vermelha é realmente a linguagem do coração e dos espíritos da terra e que só consegue se expressar quando estamos caminhando sem máscaras, vivendo conforme nossas palavras, dando vazão pros sentimentos e sonhos do nossa coração e alma e ainda, conectados e em harmonia com as leis universais e da natureza.
Gabriel Ossian.